quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ponto de exclamação

Li um anúncio que dizia: "Faça seu evento com qualidade internacional!!!". Ele entrou pelos meus olhos, passou pelos cones, bastonetes e finalmente chegou ao meu cérebro como: "Faça seu evento com imbecis."

Explico. Eu sou fresco com gramática, ortografia, acentuação e pontuação. E pontos de exclamação tem um impacto todo especial no que leio. Se não sabe usar é burro. Ponto final.

Há uma ótima definição de ponto de exclamação na Wikipedia: "Um sinal de pontuação que tem natureza eminentemente literária, e deve ser usado em textos jornalísticos parcimoniosamente. Enfatiza as seguintes emoções: surpresa, espanto, arrebatamento, entusiasmo, cólera, dor."

Por exemplo:

"Surpresa." é algo que se diz com essa cara:


"Surpresa!" se diz com essa:


A voz de quem usa duas exclamações, seja em qual for a frase, é "ouvida" num volume incômodo. Com três é quase um daqueles carrinhos de som que vendem CD pirata. Com quatro é o mesmo que gritar ao pé do ouvido usando um megafone. Com cinco já é uma impressão visual. Eu posso ver os fogos de artifício escrevendo no céu a frase que precede o "!!!!!". A minha escala não vai além de cinco exclamações. Qualquer coisa maior que isso pode facilmente comprometer a harmonia dos movimentos da terra, tirá-la da órbita e antecipar o apocalipse.

Então sempre que estiver usando um programa de instant messaging lembre-se que existe uma lei (Lei de Bonifacio?) que afirma existir uma relação entre a quantidade de exclamações no fim de uma frase e a quantidade de neurônios de quem a escreveu. Lembre também que é uma relação de proporcionalidade inversa: onde aumentam os sinais de pontuação, diminuem os neurônios.

Tudo isso me faz ter saudade dos tempos em que o mundo acabaria com bombas atômicas, invasões alienígenas, meteoros gigantes e não com idiotas armados com um computador e uma conexão à internet.


PS: Elézio, que aparece na primeira imagem, é um personagem do mundo canibal.
A segunda imagem eu copiei daqui: http://joelsantana13.blogspot.com/2010/08/um-silencio-de-morte.html

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fuck me

Em outubro de 2010 Yann Tiersen lançou o seu sexto álbum de estúdio. Eu estava escutando a primeira vez e já tocava a penúltima faixa quando percebi que nada ainda havia me causado êxtase. Algumas coisas chamaram atenção, mas nada de deixar o queixo caído. Eis que começa a tocar a última música, uma com um nome bastante curioso: "Fuck me".

Acho que você tem o direito de ouví-la antes de ler o que tenho a dizer sobre ela.


Os primeiros versos dão uma pequena ideia do panorama onde se encontram os personagens da letra ao mesmo tempo que fazem uma provocação.

I know you know we’re falling into deep oblivion
I know you know we’re falling into a never-ending mess

A ideia de aproveitar ao máximo o agora pode parecer algo muito imediatista, mas parando pra analisar, você pode muito bem morrer antes de chegar ao fim desse texto. Aproveitando pra citar Mark Twain: "Fame is a vapor; popularity an accident; the only earthly certainty is oblivion." Fatalmente você vai ser esquecido. Não importa se isso vai levar uma semana ou se somente acontecerá quando a vida na terra foi extinta. O fato é que você vai ser esquecido. Então por que levar a vida tão a sério?

So we have to take care, take care
And share it, share it, share it together
So we have to take care, take care
And share it, share it, share it together

Então é preciso tomar cuidado e aproveitar a vida que temos. Aproveitar, aproveitar, aproveitar. E por que não juntos? Já imaginou estar num quarto sozinho com quem você ama e por quem é amado? Qual a primeira ideia que vem à mente?

Please, let’s get undressed, we need
To feel it!
Please, let’s get undressed, we need
To live it!

Agora! Tem que ser agora! (E aí vem o auge da letra. Você pode chamar de refrão, mas eu prefiro chamar de clímax)

Fuck me, fuck me, fuck me, fuck me!
You make me come again, you make me come again!
Fuck me, fuck me, fuck me, fuck me!
You make me come again, you make me come again!

Esse é um refrão que eu não me atrevo a traduzir. Especialmente pela inevitável perda da musicalidade.

E então começamos tudo de novo. Lá vem o imediatismo, o esquecimento, a imprevisibilidade do futuro. Roupas no chão.

(...)
Please, let’s get undressed, we need
To feel it!
Please, let’s get undressed, we need
To live it!

E aquilo que eu falei antes que era o auge passa a ser somente a sombra do que vem a seguir:

Love me, love me, love me, love me!
You make me love again, you make me love again!
Love me, love me, love me, love me!
you make me love again, you make me love again!

Agora, se alguém for capaz, me explique como diabos alguém consegue dizer "Fuck me" com tanta doçura? Eu me atrevo a responder. Não se pode dizer "Fuck me" tão docemente. Ninguém nunca disse. "Love me" é o que sempre foi dito. Você que entendeu outra coisa.

O que eu acho divino nessa música é a forma como uma estrofe inteira é substituída, sílaba por sílaba, mantendo a sonoridade enquanto altera por completo a mensagem. (Daí a minha recusa em traduzir.) Claro que no final das contas são somente duas palavras, mas isso não tira nem um pouco do brilho. E deve ter dado trabalho conceber um refrão tão maleável.

Se ficou curioso, a voz que se ouve nessa canção, além da de Yann Tiersen, é de Gaëlle Kerrien. E não adianta procurar na internet. Não encontrei nenhum outro registro da voz dela. Uma pena. Mesmo assim Fuck me é certamente uma das músicas mais bonitas que ouvi em 2010.

PS: Uma coisa que talvez nem todos os leitores saibam, e que é fundamental pra apreciar tudo o que a letra tem a oferecer, é que "make me come again" significa "me faz gozar novamente".

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Os filmes que vi em 2010

Não me considero cinéfilo. Acho a palavra muito pesada e meu interesse por cinema ainda é muito recente. A cereja do bolo? Nada do que vi do Godard me agradou.

De toda forma, em 2010 vi mais filmes do que a média. E, felizmente, Dona Virgínia tem mania de documentar certas coisas. Eu, sortudo, pude estar presente em muitas das maratonas de locação e idas ao cinema dela. Para completar a minha lista pessoal, fui tentando lembrar os filmes que vi com outras pessoas ou só. Esses últimos não são muitos, já que tenho dificuldade de manter a atenção até no que me diverte.

Em 2011 o negócio vai ser diferente. A planilha de filmes vistos já está pronta.

Até onde consegui lembrar, vi 68 filmes no ano passado. Os que vem abaixo ficaram de fora da lista, mas eu não quero deixar de comentá-los:
  • Fiquei decepcionado com a ultrajante adaptação de Where The Wild Things Are (desculpa a sinceridade, Spike Jonze). Talvez por conta das expectativas estratosféricas criadas pelo trailer magnífico (e pela música que não apareceu no filme);
  • Um Olhar do Paraíso tem um cena fantástica, mas não paga o resto do filme;
  • Corra, Lola, corra!, me fez pensar, mas tudo me faz pensar;
  • Tenho que rever Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Foi tão marcante pra mim que não lembro quase nada. Só tive vontade de rever quando algumas pessoas queridas disseram ter memórias que gostariam de apagar;
  • Ponto de Mutação é muito bem organizado, mas, sinceramente não teve muita novidade pra mim;
  • Arraste-me Para o Inferno me deu novas esperanças de que Sam Raimi volte a fazer filmes como Uma Noite Alucinante e deixe dessa coisa de Homem-Aranha;
  • Esperei meses pra ver Scott Pilgrim e a única coisa legal que vi nele foram aquelas brincadeiras com jogos de videogame (score, K.O., os inimigos vencidos se transformando em moedas, etc.) . De resto...;
  • É impressão minha ou o trailer de O Golpista do Ano esquece completamente o lado dramático do filme. Eu, particularmente, o considero muito mais dramático do que cômico.
Uma última advertência: Os critérios usados aqui são meus. Nem eu sei quais são. Os leitores tem liberdade para total para discordar e são até encorajados a fazer isso nos comentários. Agora vamos à lista:
  1. Perfume de mulher;
  2. O cheiro do ralo;
  3. Cashback;
  4. Closer;
  5. Donnie Darko;
  6. Pequena Miss Sunshine;
  7. Tropa de elite 2;
  8. Ilha do medo;
  9. A origem;
  10. Cães de aluguel;
  11. Cidade de Deus;
  12. Beleza americana;
  13. A mão que balança o berço;
  14. Três homens em conflito;
  15. Preciosa.
Eu passei o dia quase todo tentando ordenar essa lista e depois de tudo não estou satisfeito com o resultado final. Sinto que estou fazendo uma tremenda injustiça com Preciosa. É um filme espetacular, com uma atuação memorável de Mo'Nique (talvez uma das melhores que vi até hoje) e que, apesar de ser baseado num romance, simplesmente não funcionaria em outro formato. É uma obra de valor cinematográfico mesmo. Quanto aos outros, gostaria de fazer um comentário rápido sobre cada um, mas tomaria muito espaço. Closer tem diálogos grandes que dão um post só dele. Acho que em breve comentarei alguns filmes em separado e devo escrever algo sobre a experiência frustrante de fazer listas desse tipo.

Não sei se você sabe,

mas nem todas as músicas da trilha sonora de Amélie Poulain foram compostas exclusivamente para o filme. Na verdade quase nenhuma foi.

O fato é que de todas as músicas que tocam durante o filme, apenas uma não está no disco da trilha sonora original. É a música da cena onde Amélie persegue Nino, que deixa cair um dos seus álbuns. Chama-se Quimper 94 e foi gravada pela primeira vez no disco La Valse des monstres, de 1995.

Quimper é uma comuna do Oeste da França. O que Yann Tiersen vivenciou por lá em 1994 eu não sei dizer, mas tenho certeza de que aprecio o muito resultado: