domingo, 12 de dezembro de 2010

Penguin Cafe Orchestra

Penguin Cafe Orchestra é uma daquelas bandas que você já escutou, mas da qual nunca ouviu falar.

O primeiro contato que tive com ela foi em 2006. "Music For A Found Harmonium" é nome da música que toca ao fundo do brilhante "Dance, monkeys, dance!", que você já cansou de ver, mas também não prestou atenção na trilha sonora. O texto e as imagens são muito bons, o que justifica a falta de cérebro disponível pra perceber que o som também é.



Eles tem uma sonoridade bastante incomum, coisa que à primeira vista(?) pode não ter apelo suficiente para despertar a vontade de ouvir mais. Também não dá pra ficar indiferente às capas dos álbuns. Eu, pessoalmente, as considero estilosas e muito coerentes com o nome da banda.

Music from the Penguin Cafe:


Penguin Cafe Orchestra:


Broadcasting from Home:


Signs of Life:


O fato é que a música desse pessoal atraiu outras pessoas também com projetos inusitados. A segunda vez que ouvi algo deles foi em Mary & Max, um fime descrito no IMDB como "A tale of friendship between two unlikely pen pals: Mary, a lonely, eight-year-old girl living in the suburbs of Melbourne, and Max, a forty-four-year old, severely obese man living in New York."



A música do trailer acima chama-se "Perpetuum Mobile".

Napoleon Dynamite, ou Napoleão Dinamite, não é um filme que eu recomendaria pra qualquer um. É um drama com personagens ridículos, na maioria do tempo em situações absurdas. A trilha inclui Backstreet Boys, Cindy Lauper, Alphaville (sim, é Forever Young), The White Stripes e "Music For A Found Harmonium" do Cafe Penguin Orchestra.

OK. Música repetida, nenhuma novidade. É verdade, mas esse foi um degrau a mais na escada do bizarro que ainda não chegou no seu auge. Se tiver coragem de ver o trailer, olha aqui:



No artigo da Wikipedia dedicado à banda, encontrei uma lista de filmes onde aparecem músicas dela. Depois de escolher o primeiro filme, aleatoriamente, olha com o que me deparo:

Atenção: Se você tem menos de 16 ou está no trabalho, não veja. Acho que vale a pena esclarecer que, ao contrário dos outros, esse filme eu não vi.



Mas, pra finalizar, se você acha que esse post vale mais que dois centavos, pare o que está fazendo agora e dedique quatro minutos à essa música, sem tarefas em paralelo. Rosasolis:



Espero que tenham gostado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Jingle bells

♪Natal, natal das crianças
♪Natal do menino Jesus

Natal é tempo de paz, harmonia, confraternização e de celebrar o nascimento do menino Jesus. Uma ova! Natal é tempo de consumismo descabido, de comer aquele pão com chocolate sem graça e de desperdiçar, com luzinhas piscantes, a energia poupada durante os meses do horário de verão.

Quase impossível dissociar o natal da virada do ano, que geralmente é programa para se fazer junto com a família. Logo em seguida vem um porre colossal e na manhã seguinte a única promessa de ano novo restante na memória é sobre a ressaca atual: "Nunca mais!". Estudar mais, trocar de emprego, perder peso, aprender uma nova língua: tudo isso terá sido dissolvido pelo álcool. E sendo capaz de esquecer as coisas onde o único beneficiado é você, o espírito de solidariedade, fraternidade e todas essas coisas de que só se ouve falar no final do ano, também já estará morto e enterrado.

E assim, ironicamente, começa janeiro. Ironicamente porque logo após o mês em que mais se fala em amor ao próximo e blá blá, vem o período mais amargo para as instituições que realmente fazem alguma coisa pelos seus semelhantes.

Janeiro, não sei se você sabe, é o mês favorito das papelarias. É quando os jornais veiculam as denúncias de sempre sobre as exigências absurdas das escolas. Já vi de grampeador a papel higiênico nas listas de material exigido. E o grande vilão das instituições de caridade é esse mesmo material escolar. Enquanto os pais procuram de onde tirar dinheiro para comprar caneta, papel, caderno, a solidaridade vai para as cucuias.

Mas ainda dá tempo de se redimir. Essa época é um período interessante pra fazer a caridade que você não fez ao longo do ano. Considerando a escassez, as doações de Janeiro/Dezembro valem pelo menos o dobro.

Eu acredito muito no "pensar global, agir local", então sugiro não colaborar com nomes grandes. Criança Esperança nem pensar. Ao invés disso, por que não ajudar uma organização do seu bairro? Afinal, quem garante que a Unicef está preocupada com os problemas da sua rua? Seus vizinhos certamente estão.

Fica dado o recado: No lugar de se entregar a mais um excesso, faça um sacrifício e colabore com quem precisa. Aquela dose de whisky poderia pagar algumas refeições pra quem precisa, certo? Pense nisso. E nada de financiar o tráfico dando esmola a pedintes na rua. Contribuição com instituições de caridade é bom. Esmola para pedintes é ruim.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Truques do universo

Não é uma sensação indescritível aquela que experimentamos ao encontrar algo que não procurávamos? Existe outra sensação que é um parente bem próximo dessa primeira.

No final de semana passada, o rapaz da locadora que frequento perguntou se era eu a pessoa que procurava "O Ponto de Mutação". Não era. Como eu vivo fazendo buscas de filmes incomuns, deduzi que ele me confundiu com outra pessoa que tem o mesmo hábito. Ainda sem certeza do que levar, pedi para ver sua caixa. A sinopse me pareceu convidativa, mas deixei para uma outra vez. Levei Réquiem para um sonho e A Lenda (aquele de onde Johnny Depp tirou o nome dos filhos, do Ridley Scott).

No mesmo fim de semana, passo a vista nos tweets de alguém que fala que "O Ponto de Mutação explica bem alguma coisa que..." Não dei muita atenção, afinal estava apenas passando a vista, mas fiquei com a impressão de déjà vu (cette titre).

Hoje, novamente no twitter, citaram um rapaz de quem eu já vi falar outras vezes. Resolvi que era chegada a vez de conhecer a figura visitando o seu perfil (porque pra conhecer alguém, melhor do que isso só uma visita ao quarto). Vi que temos uma mania em comum. A de fazer listas e apontar, de acordo com nosso ponto de vista, os melhores. Ele fez uma dos seus 100 filmes favoritos e nos comentários, naturalmente, surgiu uma porção de questionamentos sobre os critérios ele usou para compor a lista. Um dos leitores fez seu comentário e deixou um link para a sua própria lista. Fui visitá-la também e logo na segunda página me dou de cara com o quê? Com "O Ponto de Mutação".

Eu gosto desses truques do universo. Na sua vida toda você nunca ouviu falar de um filme e em apenas uma semana vê três referências a ele.

Em casa, assisti Réquiem para um sonho. Filme junkie de primeira. Na minha opinião melhor até que Trainspotting. A trilha sonora me chamou a atenção, mas o filme é bom demais pra te deixar apreciar o som tanto quanto ele merece. Na segunda-feira baixei a trilha pra escutar com mais calma. No meio da manhã começa a tocar uma música estranhamente familiar. Chama-se Meltdown. Quanto tempo eu esperei pra saber o nome dela? A primeira e, até então, única vez que eu a havia escutado foi em 2005/2006. Lembro que fiquei em êxtase, louco pra saber quem era o compositor, mas não consegui. Não tinha nem como me referir a ela e a ausência de letra somente dificultava as coisas. Foi um dos pequenos feitos que eu havia desistido de realizar. E agora, anos depois, ela surge assim diante de mim, com informações como nome, autor, ano, etc. Tudo que eu gostaria de ter encontrado há anos! Mas prefiro assim. Não sei se experimentaria a mesma satisfação se a busca não tivesse sido tão demorada.

É nesses momentos que eu acredito que Amélie Poulain realmente parece com a vida. Ou será o contrário?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O escorpião

Acordei cedo, saí pra ir à padaria. Passando por uma das esquinas do bloco notei que descansava ali um escorpião. Ele tinha um tamanho não muito comum. Uns 4 ou 5 centímetros.

Isso me fez pensar se valia ou não a pena matá-lo. Me concedi um pouco mais de tempo para pensar e resolvi dar uma resposta definitiva à questão depois. Na volta da padaria ele ainda estava lá.

Lembrei de uma pesquisa da qual participei recentemente. Ela perguntava se, na minha opinião, a vida dos humanos é superior à dos animais. Respondi "não". Agora eu já não tinha tanta certeza. Outra pergunta era se o homem tem direito de interferir na natureza para privilegiar a si e aos da sua espécie. Respondi que concordava, mas não completamente.

Isso, por sua vez, me lembrou de uma discussão que tive com umas amigas sobre homossexualidade. Nela, uma das pessoas apontou que isso era errado, pois ia de encontro com um dos princípios da natureza: Eles não conseguiriam se reproduzir. É verdade. Do ponto de vista darwiniano, é verdade. Porém, ir de encontro aos "princípios da natureza" é que a nossa espécie faz de melhor. E fazemos o tempo todo, mesmo sem perceber. Veja, por exemplo, os remédios. Nossas doenças quase sempre são sinais de que estamos relaxados com a saúde, que deveríamos nos alimentar melhor, etc. Essa é a seleção natural falando diretamente contigo. Não é forte o suficiente pra sobreviver? Então sai da brincadeira. E sem choro! Diante de uma doença qualquer, a nossa abordagem padrão é consumir alguma substância criada em laboratório que vá resolver o problema. Uma daquelas comercializadas em embalagens de plástico ou vidro colorido. Em suma: matamos o que nos mata sem dó nem piedade.

Se você já ouviu falar George Carlin, deve lembrar que dos seus schetches (Pro Life, Abortion, And The Sanctity Of Life) ele lembra de onde tiramos a ideia de que a vida é sagrada. Nós a inventamos! Porém esquecemos de dizer qual vida. As bactérias que combatemos ao tomar um antibiótico tem uma vida. Mas será ela sagrada? A maioria das pessoas acha que não, sagrada só a nossa. E nós continuamos a matar. Seja um boi pra comer, uma porção de esquilos pra vestir ou um exército de bactérias pra sobreviver. Há quem pague por pó de chifre de rinoceronte na expectativa de voltar a ter a virilidade dos 15 anos. Não é preciso dizer que pra tirar o chifre é preciso matar o bicho, certo? Mas nenhuma dessas vidas é sagrada. Continuemos matando.

Eu concordo com muito do que George Carlin disse, mas essa conversa está ficando muito teórica e pouco prática. Então volto a me perguntar: e o escorpião? O escorpião, com um golpe certeiro, eu matei. Porque seria muito mais doloroso escutar alguém comentar que naquela esquina alguma criança foi picada por ele do que eu mesmo ser o alvo. Hoje a simpatia pelo meu semelhante prevaleceu.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Devaneios gramaticais

Estava eu conversando sobre as (Surpresa!) eleições com umas amigas quando, por falta do que falar ou somente pra incendiar a conversa, soltei: "Dilma fala 'presidenta'".
-É aceitável - uma delas replicou.
-Não é.
-É.
-Não é.
-E se não for, eu posso falar "presidenta" e chamar de neologismo. Pronto.
-Então se "presidenta" é aceitável, "gerenta" também é.

Fiquei puto e me calei. Odeio "neologismo" como argumento. Neologismos subvertem todas as regras de um língua e isso acaba se transformando num atestado pra se falar como quiser, inclusive errado.

Depois de uma curta pausa comecei a devanear sobre as mutações que as línguas sofrem com o passar do tempo. Citei o popular "a gente", que sempre é usado pra se referir a "nós", mas que sempre concorda com a terceira pessoa ("A gente lê muito" no lugar de "[Nós] lemos muito"). Em seguinda veio o curioso caso das maiorias: "É muito comum ouvir: 'A maioria das pessoas fazem...'. Chega dós nos meus ouvidos".
-Mas é aceitável - uma delas replicou.
-Não é.
-É.
-Não é.
-É.
-A maioria é UMA maioria, portanto faz e não fazem.
-Mas o verbo pode concordar com...
Fiquei puto de novo:
-Concorda com nada! Vou parar de falar português e adotar o alemão, pra que eu ter certeza de que as pessoas escutem exatamente o que eu quis dizer.

Mais um curto silêncio.

De volta ao ponto dos neologismos, soltei: "Daqui a pouco 'vc' também vai ser aceitável."
-Ah, mas 'vc' é abreviação.
-...
-...

Nesse momento, umas das meninas que estava ouvindo mais e participando menos, comentou:
-Mas isso já aconteceu.

Na hora ninguém entendeu, mas um segundo depois todos estávamos refletindo como chegamos a "você". Vem de "Vossa mercê". E vai para "vc".

Vossa mercê -> Você -> vc

Mania feia essa de encurtar tudo, não é? E há casos piores. Como em "Vamo-nos em boa hora", que se tornou "bora". Haja preguiça!

Vamo-nos em boa hora -> Vamo-nos embora -> Vamo' embora -> Bora

Tudo isso só leva a crer que Saramago estava certo quando disse, referindo-se ao twitter: "Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido."