terça-feira, 8 de novembro de 2011

Florbela Espanca


Ontem, por acaso descobri que gosto muito mais de Florbela Espanca do que imaginava.

Isso foi, em parte, o que me motivou a terminar o texto do post anterior, que comecei em 23 de fevereiro. Florbela Espanca é autora de Fanatismo, que não me agrada e mesmo assim sei de cor, e de Fumo, que é uma das minhas músicas favoritas de Fagner e obviamente também sei de cor.

Todos os poemas do seu primeiro livro, Livro de Mágoas, podem ser lidos aqui. Mas nunca mais de um por vez, para que um não ofusque outro.

Li todos e recomendo Desejos Vãos e De Joelhos. Porém o soneto que melhor se alinha com o que eu sentia enquanto escrevia o texto de hoje cedo é Castelã, que transcrevo na íntegra abaixo.
Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor...
Debruço-me às ameias ao sol-pôr
E ponho-me a cismar não sei em quem! 
Castelã da Tristeza, vês alguém?!...
— E o meu olhar é interrogador...
E rio e choro! É sempre o mesmo horror
E nunca, nunca vi passar ninguém! 
— Castelã da tristeza por que choras,
Lendo toda de branco um livro d’horas
A sombra rendilhada dos vitrais?... 
Castelã da Tristeza, é bem verdade,
Que a tragédia infinita é a Saudade!
Que a tragédia infinita é Nunca Mais!!

Três homens em conflito

Um dos melhores filmes que vi em 2010 chama-se "Três homens em conflito". É um faroeste com uma trama interessante e a quantidade ideal de humor. Lembrei que, quando eu era criança, muitas vezes vi meu pai sair de uma locadora com uma porção de faroestes para ver no final de semana. Ele gostava mesmo. Apesar de não me interessar muito por cinema naquela época e não entender bem o que se passava ali, tive o prazer de assistir alguns desses na companhia do meu saudoso pai. Voltando a 2010, logo que subiram os créditos do filme fiquei me perguntando se meu pai já o tinha visto. Tenho certeza que seria do seu agrado e que muito o alegraria vê-lo ao meu lado.

A questão por tanto tempo martelou que acabei sonhando com isso. Lá estava eu sentado nos degraus da casa onde cresci, olhando para a rua onde com os amigos brinquei. No sonho, tive uma daquelas certezas inexplicáveis que só se tem em sonhos: Meu pai estava vivo! Eu não queria saber se ele estava bem, se sentia saudades de mim ou de coisa alguma. A única questão que me interessava, era: Será que ele já viu o filme? Levantei decidido a descobrir. Fui pelo corredor lateral até uma porta grande de metal que leva até a sala principal da casa. Entrei. Não o encontrei. Fiquei profundamente decepcionado. Tinha certeza que ele estava vivo! Em que outro lugar estaria? Ele vivia dizendo que era ali onde eu poderia encontrá-lo, mas... Passou. Depois desse sonho desejei um pouco menos a resposta para a minha pergunta. Pensei numa estratégia mais centrada no mundo real. Conheço o dono da locadora que citei antes. Se um dia encontrar com ele, pergunto se por acaso ele não tinha o tal filme. Se a resposta for positiva, é quase certo que meu pai o tenha visto. Mas, como dito antes, a questão já não mais me interessava, então não faria mais esforço algum pra descobrir a resposta.

Acontece que noite passada sonhei com meu pai. Ele estava na casa de um dos seus grandes amigos. Enquanto o dono da casa se ocupava com uma atividade qualquer, eu conversava com meu velho. Quando olhei pro seu rosto, senti surgir em mim uma perspicácia da qual não sou dono no mundo real. Instantaneamente me veio um plano que não me deixou pensar em outra coisa que não fosse colocá-lo em prática. Até então eu não sabia quem é o diretor de "Três homens em conflito". Se o mundo onde o diálogo acontecia era produto da minha mente, meu pai, o personagem desse mundo irreal, não poderia de forma alguma saber de algo que vai além dos meus conhecimentos. Fiz uma armadilha em forma de pergunta. Não citando o nome do diretor, restava ao meu pai fazê-lo. Se ele conseguisse executar tal feito, estaria cruzando a fronteira do meu saber, provando assim que o mundo onírico não é construído apenas pela mente de quem o sonha. Então perguntei:

-Painho, já viu "Três homens em conflito"?
-Já.
-E o que acha dos filmes do diretor?
-Clint Eastwood já fez filmes melhores. Veja por exemplo... - Aqui ele diz o nome de um filme que eu não me preocupei em lembrar. Não queria correr o risco de esquecer o "Clint Eastwood" que acabara de ouvir.

Acordei. Corri para descobrir imediatamente o nome do bendito diretor. Sergio Leone. Nunca ouvi falar dele. Ainda assim, Clint Eastwood é um dos atores principais do filme. Fico me perguntando se meu astucioso pai sabia do meu plano e escapou dele me fazendo crer que eu o havia feito funcionar. Mas então o sol vem e dissolve a brumosa esperança de encontrar meu pai vivo mais uma vez. Me resta chorar de saudade.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Nossa biblioteca ao ar livre


Junior, que estava morando em Brasília na época, soube de um projeto interessante que rola por lá. Ele consiste essencialmente em espalhar estantes pela cidade para que qualquer interessado possa pegar e levar pra casa o livro que quiser.

Não demorou para Junior ser tomado por uma vontade de executar a mesma ideia em Teixeira. Ele entrou em contato com os amigos leitores da cidade e contou o que pretendia fazer. Muitos se dispuseram a colaborar e uma pequena fração desses se reuniu para ir um pouco além das palavras.

Começamos a coletar doações de livros e a levantar fundos para a construção da nossa estante. Num primeiro momento pensamos em montar uma tenda durante as festas juninas e assim aproveitar a oportunidade de divulgar a ideia com os turistas que visitam a cidade nessa época. Conseguimos apenas montar uma bancada, mas os resultados surpreenderam até os otimistas. Fizemos vários empréstimos, ganhamos alguns livros e a iniciativa foi bastante elogiada.





Depois dessa primeira experiência, fizemos um balanço e pudemos alinhar melhor as nossa expectativas com relação ao futuro do projeto. A ideia da estante foi amadurecendo e tomando nova forma. Descartamos a possibilidade da clássica estante de madeira por conta da exposição a sol, chuva e da pouca proteção que ela ofereceria aos livros. Novos voluntários juntaram-se ao grupo e foi justamente um desses novos voluntários que transfomou um dos nossos planos em algo concreto. Adailton é dotado de uma capacidade de execução excepcional. Diferentemente do resto da turma, ele não tem dificuldade nenhuma em ir além dos rascunhos e especulações.

A par do que já havíamos planejado, Adailton começou a dar suas sugestões e a pensar em como chegaríamos ao nosso objetivo: a estante propriamente dita. Considerando a localização e as condições às quais a estante ficaria exposta, Adailton apontou o melhor material para o trabalho, calculou quanto dele precisaríamos e quanto tempo ele levaria para transformar a matéria prima em arte final. Resultado:



Eu não sei dizer se é por conta do meu envolvimento com o projeto, mas eu não consigo considerar o trabalho de Adailton como ordinário. E lembre-se que foi feito voluntariamente!

Há também as dificuldades que enfrentamos pra manter o projeto caminhando. A que mais me incomoda é a tendência que a pessoas tem de acreditar que só se doa o que não serve para si. Fico muito chateado quando recebemos um livro velho e mal cuidado como doação. E pior é imaginar que o doador acredita que está mesmo colaborando!

O problema do lixo em formato de livro não é exclusivamente nosso. Através do Menos um na Estante descobri que no Recife existe um projeto parecido com o nosso e que ele enfrenta algumas situações semelhantes:

"(…) Muita gente ligou ou foi à biblioteca para doar o que não serve mais. Sacos e sacos de livros didáticos e paradidáticos que os filhos não precisam, muitos deles riscados. (…) Relatórios de pesquisas de 2002; Manuais de mecânica; coleções grossas de manuais de medicina e termos de psiquiatria, fora os compêndios de álgebra linear; livros escritos em alemão; cadernos usados pelos filhos no ano anterior, com exercícios. Até o 'Guia 4 Rodas 2002' recebemos. A lista, na verdade, seria imensa. (…) O que faz uma pessoa ligar para uma biblioteca comunitária para doar livros, apostilas, cartilhas, coleções,  que não vão servir, em hipótese nenhuma? (…) Em pouco mais de um mês, tivemos um pouco a noção do que representa o “doar” para muita gente. Algo como tirar de casa o entulho."

O post completo, incluindo o lado bom da história, você pode ler aqui.

Vale lembrar que nas entrelinhas existe também um trabalho de conscientização, pois, no nosso caso, os livros ficam disponíveis 24 horas por dia sem nenhuma vigilância. A gente acabou assumindo mais um compromisso que não esperava: O de educar, além dos leitores, também os doadores.

Antes que eu esqueça é bom dar os créditos a quem está dando o sangue pela ideia. Thiago, Mateus, a ONG "Os Cobras" (da qual Adailton faz parte), Hildeberto e especialmente Alan Vital e Marco Aurélio. Esses últimos tem tirado tempo não sei de onde para acompanhar a estante um pouco mais de perto.

É necessário também agradecer a quem apoiou a ideia e fez doações de livros quando o projeto ainda se resumia a planos. João Matias, Nabila, Bruno Santos, Betomenezes e Maria Valéria Rezende doaram livros novos e bem cuidados.

Pra finalizar, uma frase do Samarone Lima, que escreve no Estuário: "Se queres doar algo, para uma biblioteca, asilo, orfanato, para vítimas de enchente, de terremotos, que seja o bom e o belo, mesmo que pouco. É o que penso."

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O fascínio pelos estranhos


Desde criança sou curioso. Um dos meus tios era professor de matemática e certo dia o encontrei corrigindo provas. Ele dava aulas a uma turma um ano à frente da minha. Numa das provas vi que um número menor "flutuava" perto de outro. Perguntei o que era. Foi assim que aprendi potenciação antes de ver na escola.

Com o tempo minha curiosidade foi crescendo, invadindo outras áreas de conhecimento e ganhando novos interesses. Hoje, uma das coisas que mais me fascina é gente. É comum estar num ambiente onde passam muitas pessoas e me perder em pensamentos tentando imaginar quem são, do que gostam, o que fazem, o que interessa a esses estranhos. Do que riem? Quais são seus hobbies? O que os deixa deslumbrados?

Gosto de imaginar que essas pessoas moram em casas bonitas, tem bons empregos e dão muitas risadas com os amigos. Eu prefiro fantasiar a arriscar uma conversa e descobrir a verdade. Afinal, na condição de Homo Sapiens, é muito pouco provável que eles estejam satisfeitos.

Tem gente que vê e trata os desconhecidos de forma diferente. Há alguns dias Vivi me mostrou um post sobre uma exposição de um maluco que sofre desse mesmo mal que eu. Só que o problema dele está em outro nível. Ele costuma abordar as pessoas, conversar um pouco com elas e ao final do encontro pedir pra tirar uma foto delas. Brilhante! Eu, sinceramente, não sei como reagiria se alguém me abordasse na rua perguntando sobre quem sou eu e pedindo pra tirar uma foto minha. Mesmo assim deve ser extasiante para o fotógrafo receber uma resposta positiva numa dessas tentativas.

Um outra ideia interessante (essa foi Yuri que me mostrou) é a de um cara que saiu nas ruas de Nova Iorque perguntando "Que música você está ouvindo?" a pessoas com fones de ouvido. Os resultados você pode ver aqui.

Muito bom saber que existem por aí pessoas curiosas pelas mesmas coisas que eu. Fico me perguntando o que vou fazer quando tiver a coragem que eles tem.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre satisfação

Logo que foi anunciado o show do Pato Fu aqui em João Pessoa, comprei minha entrada. Paguei R$60. Me apressei porque não queria nem pensar na ideia de perder a chance de vê-los ao vivo. Dias depois uma amiga falou: "A entrada tá custando R$30. Fail pra você".

A reação mais comum das pessoas é pensar algo como: "Que droga! Se eu tivesse esperado um pouco mais...". Há dois anos eu teria reagido assim. Hoje não. É bastante óbvio que pensar sobre o dinheiro que eu poderia ter economizado não vai trazê-lo de volta, mas foi preciso alguém me dizer pra eu poder entender que saio mais satisfeito de casos assim se não pensar nas possibilidades.

Em economia existe um termo chamado sunk costs. Ele serve para designar os investimentos que não podem ser recuperados. E "recursos" não quer necessariamente dizer "recursos monetários". Você já deve ter terminado de ler um livro somente por já ter passado da metade. Ficou com aquela ideia de "Se eu não terminar agora vou ter perdido o tempo que investi até aqui. Então vou até o fim". E é tomando decisões como essas que você acaba, ao contrário do que espera, desperdiçando mais ainda os seus preciosos recursos. Sunk costs. Melhor teria sido abandonar a leitura do livro ruim no meio.

Foi lendo The Paradox of Choice, de Barry Schwartz, que descobri o quanto sunk costs pesam na hora de decidir entre deixar ou continuar algo. O mais assustador é ver o quanto é comum se apegar a algo sem futuro somente por já ter investido demais na tal coisa. No livro, aprendi muito sobre satisfação. Descobri que algumas das minhas atitudes diante de certas situações comprometiam a satisfação que eu poderia tirar da experiência. Devagarinho fui tentando mudar.

Num dos capítulos se fala sobre dois grupos que o autor chama de Satisficers e Maximizers. O primeiro é formado por pessoas que, por exemplo, ao sair pra fazer compras estão dispostas a aceitar algo que não é exatamente o que queriam, mas que é bom o suficiente. Os maximizers são mais rigorosos, estão dispostos a investir mais tempo e mais energia na busca do, seja lá o que estiverem procurando, ideal. Para esse segundo grupo é comum ter que gastar muitos recursos (seja tempo, dinheiro, energia ou uma combinação de todos) para encontrar o que se procura. E ao final da epopeia nem sempre se está satisfeito o quanto se espera. Sem falar que é possível que esse produto/serviço ideal não esteja disponível.

Essa é apenas uma característica que diferencia as pessoas que buscam a perfeição das que se vivem mais satisfeitas. Continuando a leitura, já com a pulga atrás da orelha quanto a qual grupo eu pertenceria, vi que há um pequeno teste no meio do livro. Nele, umas das questões que mais ficaram martelando na minha cabeça foram algo como: "Você tem hábito de classificar coisas apontando qual o melhor, qual o pior, etc? Costuma fazer lista dos melhores livros, melhores filmes, melhores discos?". Quando li essa segunda, tive a impressão de que o livro estava falando diretamente comigo. Sou um grande adepto desse tipo de lista. Até publiquei uma aqui no blog, mas não sem ficar insatisfeito ao final. Tinha planos para escrever outras, mas vi que isso não me faria muito bem, então desisti.

Essas perguntas me chamaram tanto a atenção porque é comum me ouvir fazê-las nas primeiras conversas que tenho com alguém que acabei de conhecer. Especialmente "Quais são seus livros/filmes/discos favoritos?". Vai ser fácil notar isso se você me conhece há pouco tempo. Os amigos mais antigos também já devem ter notado.

Talvez eu esteja até dando a impressão errada do livro aqui. Estou falando de alguns pontos específicos enquanto o autor se preocupa muito mais em dizer que escolhas demais são prejudiciais à nossa satisfação. Mas cito aqui exatamente os pontos que mais me marcaram e fizeram com que eu considere The Paradox of Choice um dos livros mais importantes que li no ano passado.



PS: Fui pra o show do Pato Fu e foi fantástico. Melhor do que eu esperava. A amiga que citei no começo do texto não foi. Achou caro. Poucos dias depois me disse que estava arrependida. Qual a decisão mais inteligente a tomar agora? Esquecer. Nada de remoer oportunidade perdida. Assim a gente vive mais satisfeito.

domingo, 3 de julho de 2011

Humildade

Uma vez perguntaram pra Cauby Peixoto:
-Quais os dois melhores cantores do Brasil?
Ele pensou um pouco e respondeu:
-O outro é Emílio Santiago.

A maioria das pessoas procura desesperadamente uma razão pra existir. De vez em quando também caio nessa, penso que ter consciência e não usá-la pra algo útil é muita ingratidão. Mas aí vem o universo. Minúsculo como sou, não posso ser responsável por nada. A insignificância me conforta. Se você sente algo ao menos semelhante a isso, vai gostar do video abaixo:



Desse texto de Sagan a minha parte favorita é "There is perhaps no better demonstration of the folly of human conceits than this distant image of our tiny world", que ficou melhor, julgo eu, na tradução que não sei quem fez: "Talvez não haja melhor demonstração da tolice das vaidades humanas do que essa imagem distante de nosso pequeno mundo."

Mas você pode não estar convencido e achar o universo um assunto pouco interessante. Então veja agora um video mais específico, falando sobre a ilustre pessoa que é você. Talvez você nunca tenha parado pra pensar em quem é, mas Mário Sérgio Cortella já o fez e ele responde aqui a grande questão: "Quem és tu?"




Desse texto a minha parte favorita é:

Tem gente que pensa que deus fez tudo isso somente pra nós existirmos aqui. Esse que é um deus inteligente! Entende da relação custo/benefício. Ele faz bilhões de estrelas, galáxias, só pra nós existirmos aqui.

Tem gente que acha coisa pior. Acha que deus fez tudo isso só pra essa pessoa existir ali. Com o dinheiro que ela carrega, o sotaque que ela usa, a religião que ela pratica, com o cargo que ela tem dentro do banco ou da universidade, com a cor da pele que ela tem.

Recapitulando: Tu és um indivíduo entre outros 6 bilhões e 400 milhões de indivíduos compondo uma espécie entre outras 3 milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre outras 100 bilhões de estrelas, compondo uma única galáxia entre outros 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.

De forma sucinta: Um vice-treco do sub-troço.

Créditos:
-Quem me contou a anedota que abre o post foi @PatrickOnofre;
-Alan Vital já havia me falado sobre Cortella há pouco mais que um ano, mas foi @Raninho quem me mandou o link do segundo video.

1984

Li 1984 recentemente. Além da sensação comum a quem lê o livro, fiquei com outra. Nas cenas onde O'Brien aparecia eu sentia que o rosto dele me era familiar, mas não conseguia olhá-lo diretamente. A ideia que eu tinha do rosto era característica do que é percebido somente pela visão periférica: presente, mas indefinido. A sensação me atacava sempre que o personagem aparecia e durou até depois do fim do romance. Fiquei matutando, na esperança de descobrir quem era, no mundo real, o dono da face fictícia.

Só ontem à noite fiz a descoberta.



Christoph Waltz, que fez Hans Landa em Bastardos Inglórios, é a cara que a minha mente deu a O'Brien.

sábado, 28 de maio de 2011

Estante

Tudo começou com um retweet do @tarrask se autoprovendo. Ele recentemente foi convidado a escrever um post, para o blog de uma moça que não conheço, falando sobre o que há na estante dele. O post, apesar de descambar pra outro lado, saiu melhor que a encomenda. Ele acaba falando mais sobre as vantagens e desvantagens de trocar o papel por um e-reader do que sobre a bendita estante.

Fiquei com muita vontade de comprar um Kindle, mas pensando um pouco mais vi que talvez seja mais negócio comprar um iPad mesmo. Vão lá ler o texto. Passou no controle de qualidade desse que vos escreve.

Se você leu o post, sabe que a ideia de convidar pessoas pra falar sobre suas estantes não nasceu no menos um na estante, mas sim no de bubuia na bubuia (nome exótico, não?). Lá, além dessa seção, chamada de "minha estante" existem outras como: "música do dia", "stop motion, i love u", "indico" e mais algumas. De todas as que encontrei por lá as minhas favoritas foram "minha estante" e "a tatoo que eu queria ter feito".

Eu não sou fissurado por tatuagens. Me considero mutante demais pra coisas do tipo. Então o que vi de interessante em "a tatoo que eu queria ter feito"? Exatamente a outra metade da ideia: o que eu queria ter feito. Talvez eu crie até uma seção "Posts/blogs que eu gostaria de ter escrito". Quanto à estante, gostei tanto dessa ideia que eu ficaria feliz de ter pensado nela antes. Claro que não acredito que o de bubuia na bubuia foi o primeiro lugar a pensar e/ou executar isso. Mas foi o primeiro lugar onde vi, ora. Então podem esperar, em breve, um post com algumas fotos e comentários sobre o meu porta-livros. Porque, afinal de contas, blog é assim mesmo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

1 dia (quase) sem reclamar

Quantos erros podem ter ensinar uma lição já no primeiro dia?

É um retorno bem rápido e quase nada tem o tempo de resposta tão curto.

Ontem, como vocês sabem, comecei o desafio dos 21 dias sem reclamar. Falhei, mas não me sinto derrotado ou fracassado. Hoje comecei novamente. Quero compartilhar um pouco do que pude observar nesse minha experiência (quase) livre de reclamações.

Estive na maior parte do tempo alerta para poder controlar o que dizer. É natural que seja assim, pois estou tentando mudar um comportamento que está enraizado na minha personalidade há muito. Com o passar dos dias reclamar menos vai se tornar mais natural e vou precisar de menos esforço pra isso.

Porém as lições, como era de se esperar, vem dos erros e não dos acertos. É fácil perceber as reclamações que você está prester a fazer e que consegue segurar e guardar para si. O problema está em detectar as que estão no "piloto automático", as que você fala e não percebe. Ontem me peguei deixando escapar quatros dessas.

A primeira foi quanto à conexão com a internet. Foi só a ocorrer a primeira intermitência que, inutilmente, me queixei dela.

A segunda me veio num momento em que olhei pro relógio, vi que era cedo e lembrei que era quarta. "Puta merda. Quarta. Ainda?", me escapou e em seguida me veio a consciência do que havia dito. Contador zerado.

Desdizendo o que eu disse antes: Na verdade as lições não vem dos erros, mas sim dessa consciência que vem no instante seguinte. Sem ela, os erros são inúteis.

Vocês não acham irritante aquela pessoa que, ao passar vinte segundos sem resposta no IM, já manda outra mensagem do tipo "oi?", "você tá aí?","responde!"? Eu acho. Foi ao ler uma dessas que cometi o terceiro erro. Sequer falei. Soltei um grunhido, um barulho entredentes, mas foi entendido pelas sentinelas do trabalho que tratava-se de uma reclamação.

A quarta e última história é curiosa. Num certo momento levantei pra tomar água e por acaso vi "RestartPraSempre" nos Trending Topics. Mandei um PQP! Um segundo depois eu já estava me autoflagelando mentalmente. Foi nesse instante que descobri que reclamar pra mim é quase um reflexo. E exatamente esse o ponto crucial a trabalhar.

Como disse ontem, a questão não é simplesmente parar de reclamar, mas sim mudar de atitude diante das situações desagradáveis que sugem no dia-a-dia.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

21 dias sem reclamar

O desafio surgiu de um artigo que um colega de trabalho comentou comigo.

Resumindo em uma frase: "Você deve passar 21 dias sem reclamar de absolutamente nada".

Eu estou animado com o desafio. Talvez seja somente porque na noite passada consegui dormir mais do que nos últimos 5 dias, mas não quero pensar sobre isso.

Já estou sentindo alguns benefícios, que podem muito bem vir de outra fonte, mas também não quero devanear sobre.

O fato é que o desafio propõe algo que não é o objetivo. Isso fica bem claro nas primeiras horas após assumir o compromisso de abandonar as reclamações. O benefício maior não é parar de reclamar, mas sim uma mudança de atitude.

Diante de um problema ou de uma situação desagradável você tem duas opções: Pode fazer algo pra mudar ou pode reclamar. Privado da segunda opção, não restam muitas escolhas.

Pensei em guardar o desafio pra mim mesmo. Não contar pra ninguém que estou me submetendo a essa provação. Mas num minuto percebi que isso seria trapacear. É preciso dizer pra todo mundo que você está com essa nova meta. Assim as pessoas tem liberdade para testar a sua força de vontade, seja te irritando ou whatever.

Eu sequer completei o primeiro dia, mas estou levando negócio a sério. Vejo que os dias que estão por vir podem ter uma porção de pequenos feitos e que posso acabar passando também, de tabela, 21 dias sem procrastinar. Por exemplo: esse é apenas o segundo post que consigo escrever de uma vez só, sem deixar para depois. Agora mesmo estou no trabalho e tenho certeza que pelo menos um dos meus chefes vai ler isso. Contudo não me sinto nem um pouco culpado. Acho que a empresa onde trabalho vai ser uma das beneficiadas dessa tentativa de mudança.

Antes de ir, somente mais uma coisa: A única estratégia que defini para os dias seguintes foi ter, novamente, uma hora para dormir e acordar. O poder de uma noite bem dormida é subestimado pela grande maioria das pessoas do mundo. Eu o conheço e quero de volta os seus benefícios.

Agora tenho que ir. Há uma lista de tarefas que me espera.

domingo, 17 de abril de 2011

Sylvia Plath

Sylvia Plath foi uma poetisa estadunidense. Escreveu "O Colosso e Outros Poemas", "Ariel" e "A Redoma de Vidro". Ganhou o Pulitzer de poesia em 1982. Mas esses não são os fatos notáveis da sua vida.

No começo da década de 1950, Plath graduou-se com láureas e foi morar em Nova York. Viveu alguns momentos ruins que inspiraram grande parte do que foi escrito em "A Redoma de Vidro". Fez sua primeira tentativa de suicídio da qual se tem notícia. Super dose de pílulas para dormir. Conheceu Ted Hughes, um poeta que admirava, e com ele se casou.

Em 1958, participou de um seminário de escrita criativa com Robert Lowell, ganhador de dois Pulitzer (e maníaco depressivo). Conheceu Anne Sexton, que também tinha tendências suicidas (e ganharia o seu Pulitzer em 1967), o que garantia a abertura para falar sobre o assunto.

Em 1960, nasce Frieda, a primeira filha do casal. Logo em seguida, Plath sofre um aborto da segunda gravidez, o que adicionaria mais um item à lista de assuntos sobre os quais ela escrevia. Em 1961, "A Redoma de Vidro" está terminado. Nicholas, o segundo filho, nasce em 1962. Em julho do mesmo ano, Plath descobre que o marido está tendo um caso com Assia Weville. Plath sofre um "acidente" de carro, que mais tarde confessaria ser uma tentativa de suicídio. Em setembro pede divórcio.

Morando só com as crianças, enfrentando um dos invernos mais frios dos últimos 100 anos, Plath vê sua depressão voltar. Ainda assim, num surto de criatividade, escreve a maioria dos poemas de "Ariel", os mesmos poemas que garantiriam sua fama póstuma.

Em Janeiro de 1963, "A Redoma de Vidro" é lançado. Assinado com um pseudônimo, o livro não recebe muitas críticas positivas.

Numa manhã de fevereiro de 1963, a enfermeira que deveria ajudar a cuidar das crianças não conseguiu abrir a porta da frente da casa de Plath. Com a ajuda de um homem, a enfermeira entrou e encontrou Plath na cozinha, com a cabeça dentro do fogão, que estava com o gás aberto. As crianças estavam em segurança, num quarto que tinha a porta cuidadosamente selada por roupas e toalhas molhadas.

A vida de Sylvia Plath acaba aqui. Mas não sua história. Ela escrevia no seu diário desde os 11 anos de idade e manteve o hábito até os seus últimos dias de vida.

Em 1982 foram publicados os diários que documentavam quase toda a vida adulta de Plath. De 1950 até 1962. Ted Hughes, seu ex-marido, foi um dos editores de "The Journals of Sylvia Plath". "Quase" porque Hughes destruiu a parte final dos diários. Desde o inverno de 1962 até a morte da poetisa. Ele argumentou dizendo que não queria que os filhos lessem aquilo e que esquecimento era essencial para a sua sobrevivência. Vale lembrar que na ocasião da morte dela, Hughes declarou que estava devastado, que também havia morrido.

Aqui acaba a história de Sylvia Plath. Mas você lembra dos outros nomes?

Assia Weville: A amante de Hughes, foi encontrada morta em sua casa. Estava na cozinha, deitada num colchão com sua filha de 4 anos, Shura Weville. As janelas e portas estavam fechadas e o gás do fogão estava aberto.

A semelhança entre as mortes de Plath e Weville levantou questões sobre a atitude que Hughes teria como pai e marido.

Anne Sexton: A amiga que conheceu no seminário morreu em 1974. Tomou uma dose de vodka, trancou-se na garagem de casa, ligou o motor do carro e esperou. Causa mortis: Intoxicação por monóxido de carbono. A mesma de Plath e Weville.

Segundo Sexton, a tentativa de suicídio descrita em "A Redoma de Vidro" é exatamente igual à primeira tentativa que Plath fez.

Nicholas Hughes: Enforcou-se em casa. Segundo Frieda, ele andava deprimido.

Por que eu estou escrevendo isso? Tudo o que apareceu aqui no post, até agora, pode ser encontrado na wikipedia. Escrevi porque as angústias de Sylvia eram muito semelhantes às minhas. Veja:

"I can never read all the books I want; I can never be all the people I want and live all the lives I want. I can never train myself in all the skills I want. And why do I want? I want to live and feel all the shades, tones and variations of mental and physical experience possible in life. And I am horribly limited." Sylvia Plath

Espero que o meu final seja diferente.

PS: Conheci Sylvia Plath aqui.

terça-feira, 22 de março de 2011

Tribes - Seth Godin (Parte 3 - Final)

O post anterior não ficou maior do que está porque a próxima história que eu contaria nele tinha muito a ver com uma notícia que me chegou pelo twitter enquanto eu o escrevia. Sem mais delongas:

"Isaac Newton was totally, fantastically wrong about alchemy, the branch of science he spent most of his carrer on. He was as wrong as a scientist could be. And yet , he's widely regarded as the most successful scientist and mathematician ever."

"The secret of being wrong isn't to avoid being wrong.
The secret is being willing to be wrong.
The secret is realizing that wrong isn't fatal.
The only thing that makes people and organizations great is their willingness to be no great along the way. The desire to fail on the way to reaching a bigger goal is the untold secret of success."

Você sabia que Angry Birds foi o 52º jogo desenvolvido pela Rovio? Pois é. Nem eu. Essa foi a notícia que me impediu de continuar escrevendo. Já pensou se esse pessoal tivesse medo de falhar? E se eles tivessem desistido depois que a primeira coisa deu errado? No comecinho do post o pessoal fala um pouco dos perrengues que enfrentaram durante o desenvolvimento do jogo. Não foi fácil, mas tenho certeza que dificilmente existiria o sucesso sem os fracassos anteriores.

E pra finalizar esse combo de Seth Godin, só mais duas citações do Tribes:

"If you hear my idea but you don't believe it, that's not your fault; it's mine.
If you see my new product but you don't buy it; that's my failure, not yours.
If you attend my presentation and you're bored, that's my fault too.
If I fail to persuade you to implement a policy that supports my tribe, that due to my lack of passion or skill, not your shortsightedness.
If you are a student in my class and you don't learn what I am teaching, I've let you down.
It's easy to insist that people read the manual. It's really easy to blame the user/student/prospect/customer for not trying hard, for being too stupid to get it, or for not caring enough to pay attention. It might even be tempting to blame those in your tribe who aren't working as hard at following as you are at leading. But none of this is helpful."

Essa última é uma fórmula definitiva para reconhecer um líder:

"What does a leader look like?
I've met leaders all over the world, on several continents, and in every profession. I've met young leaders and old ones, leaders with big tribes and tiny ones.
I can tell you this: leaders have nothing in common.
They don't share gender or income level or geography. There's no gene, no schooling, no parentage, no profession. In other words, leaders aren't born. I'm sure of it.
Actually, they do have on thing in common. Every tribe leader I've ever met shares one thing: the decision to lead."

quarta-feira, 9 de março de 2011

Tribes - Seth Godin (Parte 2)

Esse post é uma espécie de continuação do anterior. Nele eu fiz uma lista com algumas das minhas partes favoritas do livro que acabei de ler. No finalzinho, falo sobre algumas historinhas que o Seth Godin conta. Esse post é sobre essas historinhas.

Tribes começa meio devagar, com um tom puxado pro "eu quero, eu posso". Chega a soar meio auto-ajuda, mas ganha profundidade quando o autor conta uma história de liderança protagonizada por ele mesmo.

Durante a leitura, é impossível não parar pra pensar no quanto daquilo é parte da sua realidade. A primeira vez que me senti assim foi enquanto lia o capítulo chamado "Sheepwalking". Essa é uma palavra que o autor usa para definir o resultado de contratar pessoas que foram feitas para ser obedientes e dar pra elas tarefas que não exigem cérebro e uma certa quantidade de medo pra mantê-las na linha. São pessoas capazes de, por exemplo, ler em voz alta a política da empresa por seis ou sete vezes sem fazer ideia do que aquilo significa. Ou pessoas que executam qualquer tarefa apenas porque o chefe mandou, sem questionar. Fiquei pensando em quanto tempo eu teria durado no meu emprego se meus chefes não suportassem ouvir um "Por que?", um "Não vai funcionar." ou até um "Isso vai dar merda". Não muito tempo.

De toda forma, "Sheepwalking" é a forma que Seth Godin resolveu chamar esse problema das pessoas que aceitam tarefas que poderiam ser feitas por máquinas e que preferem repetir a criar.

A segunda história, a de um capítulo chamado "Como foi o seu dia?", se passa às 4 da manhã no hall de um hotel. Godin estava sem conseguir dormir e aproveitou pra checar seus e-mails. Um casal entra e a mulher sussurra pra seu companheiro: -Não é triste? Mesmo de férias esse rapaz não consegue se livrar do seu e-mail. Não consegue nem aproveitar suas férias.

Nosso querido autor demorou, mas conseguiu perceber porque estava tão satisfeito de estar checando o e-mail no meio da madrugada (atividade que não trocaria por outra senão dormir). Seu trabalho é liderar pessoas. Não são muitas, mas todas estão criando, trabalhando para mudar alguma coisa, para chegar onde querem chegar. E aí então vem uma sequência de frases brilhantes:

"Most people have jobs where they fight change, where they work overtime to defend the status quo. It's exhausting. Maintaining a system in the face of change will grind you down."

"'Life is too short' is repeated often enough to be a cliché, but this time is true. You don't have time to be both unhappy and mediocre. It's not just pointless, but it's painful. Instead of wondering when your next vacation is, maybe you ought to set up a life you don't need to scape from."

Esse trecho é espetacular. Talvez o melhor do livro. Se você ainda não está no emprego dos seus sonhos e isso não te tocou, pode ir ler outra coisa. Mas se você não está feliz com o que faz e está disposto a mudar... Quanto tempo você ainda vai esperar pra mandar o seu chefe chato ir pastar? Releia o parágrafo: "Você não tem tempo pra ser infeliz e medíocre. Não é só despropositado, mas também doloroso." Se os adjetivos "infeliz", "medíocre", "despropositado" e "doloroso" descrevem bem o seu dia-a-dia, é hora de mudar algo, não acha? Eu não sei você, mas eu quero um emprego que me dê saudades dele nas férias. E pra fechar o capítulo:

"The amazing thing is that not only is this short life easier to set up than ever before, but it's also more likely to make you successful. And happy. So how was your day?"

Acho que o post está ficando um pouco longo demais, então em breve eu volto com mais Tribes. Fiquem com mais alguns dos trechos que me chamaram a atenção:

"It's easy to underestimate how difficult it is for someone to become curious. For seven, ten, or even fifteen years of school, you're required to not be curious. Over and over and over again, the curious are punished."

"Once recognized, the quiet yet persistent voice of curiousity doesn't go away. Ever. And perhaps it's such curiosity that will lead us to distinguish our own greatness from the mediocrity that stares us in the face."

"Ultimately, people are most easily led where they wanted to go all along."

quarta-feira, 2 de março de 2011

Tribes - Seth Godin

Recentemente terminei de ler o Tribes do Seth Godin. Ele fala sobre iniciativa, zona de conforto, inovação e especialmente liderança.

Foi divertido, proveitoso e rápido. Eu já ouvira falar dele antes, alguns amigos recomendaram artigos dele e vez ou outra surgia uma referência perdida aos seus livros. Mas o que me fez decidir ler agora foi o seguinte:

Estava eu conversando com Danilo sobre a possibilidade de João Pessoa ser um dos lugares do próximo Global Game Jam quando, do nada, ele solta:

Danilo: ultimamente tenho pensando muito no livro do seth godin, we need you to lead us. tem que ser herege ou não se faz nada na vida. seth godin mother fucker
Eu não sei dizer o que estalou na minha cabeça nesse instante, mas o fato é que fiquei com muita vontade de ler o livro. Ao longo dele, encontrei muitas coisas dignas de nota. Como não era meu, não pude marcá-lo nem riscá-lo. Então a alternativa que encontrei para quando quiser reler a parte mais substancial foi escrever esse post. Então aí vai uma seleção de frases marcantes do livro:

"Many people are starting to realize that they work a lot and that working on stuff they believe in (and making things happen) is much more satisfying than just getting a paycheck and waiting to get fired."

"People yearn for change, they relish being part of a movement, and they talk about things that are remarkable, not boring."

"There doesn't seem to be a shortage of ideas. Ordinary folks can dream up remarkable stuff fairly easily. What's missing is the will to make ideias happen."

"In a battle between two ideas, the best one doesn't necessarily win. The idea that wins is the one with the most fearless heretic behind it."

"Change isn't made by asking permission. Change is made by asking forgiveness, later."

"There's a small price for being too early, but a huge penalty for being too late."

"In organization after organization real leadership rarely comes from CEO or the Senior VP of leadership. Instead, it happens out of the corner of your eye, in a place you weren't watching."

"There's no record of Martin Luther King Jr. or Gandhi whining about credit. Credit isn't the point. Change is."

"People don't believe what you tell them. They rarely believe what you show them. They often believe what their friends tell them. They always believe what they tell themselves. What leaders do: they give people stories they can tell themselves. Stories about the future and about change."

"The very nature of leadership is that you're not doing what's been done before. If you were, you'd be following, not leading."

"Once you choose to lead, you'll be under great pressure to reconsider your choice, to compromise, to dumb it down, to give up. Of course you will. It the world's job: to get you to be quiet and follow. The status quo is the status quo for a reason."

No livro há também algumas historinhas que ele conta, mas são um pouco mais longas pra colocar aqui. Talvez cada uma das melhores ganhe um post só seu.

Livro recomendadíssimo pra quem não está satisfeito com as coisas com elas são, para empreendedores e atrevidos em geral.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ponto de exclamação

Li um anúncio que dizia: "Faça seu evento com qualidade internacional!!!". Ele entrou pelos meus olhos, passou pelos cones, bastonetes e finalmente chegou ao meu cérebro como: "Faça seu evento com imbecis."

Explico. Eu sou fresco com gramática, ortografia, acentuação e pontuação. E pontos de exclamação tem um impacto todo especial no que leio. Se não sabe usar é burro. Ponto final.

Há uma ótima definição de ponto de exclamação na Wikipedia: "Um sinal de pontuação que tem natureza eminentemente literária, e deve ser usado em textos jornalísticos parcimoniosamente. Enfatiza as seguintes emoções: surpresa, espanto, arrebatamento, entusiasmo, cólera, dor."

Por exemplo:

"Surpresa." é algo que se diz com essa cara:


"Surpresa!" se diz com essa:


A voz de quem usa duas exclamações, seja em qual for a frase, é "ouvida" num volume incômodo. Com três é quase um daqueles carrinhos de som que vendem CD pirata. Com quatro é o mesmo que gritar ao pé do ouvido usando um megafone. Com cinco já é uma impressão visual. Eu posso ver os fogos de artifício escrevendo no céu a frase que precede o "!!!!!". A minha escala não vai além de cinco exclamações. Qualquer coisa maior que isso pode facilmente comprometer a harmonia dos movimentos da terra, tirá-la da órbita e antecipar o apocalipse.

Então sempre que estiver usando um programa de instant messaging lembre-se que existe uma lei (Lei de Bonifacio?) que afirma existir uma relação entre a quantidade de exclamações no fim de uma frase e a quantidade de neurônios de quem a escreveu. Lembre também que é uma relação de proporcionalidade inversa: onde aumentam os sinais de pontuação, diminuem os neurônios.

Tudo isso me faz ter saudade dos tempos em que o mundo acabaria com bombas atômicas, invasões alienígenas, meteoros gigantes e não com idiotas armados com um computador e uma conexão à internet.


PS: Elézio, que aparece na primeira imagem, é um personagem do mundo canibal.
A segunda imagem eu copiei daqui: http://joelsantana13.blogspot.com/2010/08/um-silencio-de-morte.html

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fuck me

Em outubro de 2010 Yann Tiersen lançou o seu sexto álbum de estúdio. Eu estava escutando a primeira vez e já tocava a penúltima faixa quando percebi que nada ainda havia me causado êxtase. Algumas coisas chamaram atenção, mas nada de deixar o queixo caído. Eis que começa a tocar a última música, uma com um nome bastante curioso: "Fuck me".

Acho que você tem o direito de ouví-la antes de ler o que tenho a dizer sobre ela.


Os primeiros versos dão uma pequena ideia do panorama onde se encontram os personagens da letra ao mesmo tempo que fazem uma provocação.

I know you know we’re falling into deep oblivion
I know you know we’re falling into a never-ending mess

A ideia de aproveitar ao máximo o agora pode parecer algo muito imediatista, mas parando pra analisar, você pode muito bem morrer antes de chegar ao fim desse texto. Aproveitando pra citar Mark Twain: "Fame is a vapor; popularity an accident; the only earthly certainty is oblivion." Fatalmente você vai ser esquecido. Não importa se isso vai levar uma semana ou se somente acontecerá quando a vida na terra foi extinta. O fato é que você vai ser esquecido. Então por que levar a vida tão a sério?

So we have to take care, take care
And share it, share it, share it together
So we have to take care, take care
And share it, share it, share it together

Então é preciso tomar cuidado e aproveitar a vida que temos. Aproveitar, aproveitar, aproveitar. E por que não juntos? Já imaginou estar num quarto sozinho com quem você ama e por quem é amado? Qual a primeira ideia que vem à mente?

Please, let’s get undressed, we need
To feel it!
Please, let’s get undressed, we need
To live it!

Agora! Tem que ser agora! (E aí vem o auge da letra. Você pode chamar de refrão, mas eu prefiro chamar de clímax)

Fuck me, fuck me, fuck me, fuck me!
You make me come again, you make me come again!
Fuck me, fuck me, fuck me, fuck me!
You make me come again, you make me come again!

Esse é um refrão que eu não me atrevo a traduzir. Especialmente pela inevitável perda da musicalidade.

E então começamos tudo de novo. Lá vem o imediatismo, o esquecimento, a imprevisibilidade do futuro. Roupas no chão.

(...)
Please, let’s get undressed, we need
To feel it!
Please, let’s get undressed, we need
To live it!

E aquilo que eu falei antes que era o auge passa a ser somente a sombra do que vem a seguir:

Love me, love me, love me, love me!
You make me love again, you make me love again!
Love me, love me, love me, love me!
you make me love again, you make me love again!

Agora, se alguém for capaz, me explique como diabos alguém consegue dizer "Fuck me" com tanta doçura? Eu me atrevo a responder. Não se pode dizer "Fuck me" tão docemente. Ninguém nunca disse. "Love me" é o que sempre foi dito. Você que entendeu outra coisa.

O que eu acho divino nessa música é a forma como uma estrofe inteira é substituída, sílaba por sílaba, mantendo a sonoridade enquanto altera por completo a mensagem. (Daí a minha recusa em traduzir.) Claro que no final das contas são somente duas palavras, mas isso não tira nem um pouco do brilho. E deve ter dado trabalho conceber um refrão tão maleável.

Se ficou curioso, a voz que se ouve nessa canção, além da de Yann Tiersen, é de Gaëlle Kerrien. E não adianta procurar na internet. Não encontrei nenhum outro registro da voz dela. Uma pena. Mesmo assim Fuck me é certamente uma das músicas mais bonitas que ouvi em 2010.

PS: Uma coisa que talvez nem todos os leitores saibam, e que é fundamental pra apreciar tudo o que a letra tem a oferecer, é que "make me come again" significa "me faz gozar novamente".

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Os filmes que vi em 2010

Não me considero cinéfilo. Acho a palavra muito pesada e meu interesse por cinema ainda é muito recente. A cereja do bolo? Nada do que vi do Godard me agradou.

De toda forma, em 2010 vi mais filmes do que a média. E, felizmente, Dona Virgínia tem mania de documentar certas coisas. Eu, sortudo, pude estar presente em muitas das maratonas de locação e idas ao cinema dela. Para completar a minha lista pessoal, fui tentando lembrar os filmes que vi com outras pessoas ou só. Esses últimos não são muitos, já que tenho dificuldade de manter a atenção até no que me diverte.

Em 2011 o negócio vai ser diferente. A planilha de filmes vistos já está pronta.

Até onde consegui lembrar, vi 68 filmes no ano passado. Os que vem abaixo ficaram de fora da lista, mas eu não quero deixar de comentá-los:
  • Fiquei decepcionado com a ultrajante adaptação de Where The Wild Things Are (desculpa a sinceridade, Spike Jonze). Talvez por conta das expectativas estratosféricas criadas pelo trailer magnífico (e pela música que não apareceu no filme);
  • Um Olhar do Paraíso tem um cena fantástica, mas não paga o resto do filme;
  • Corra, Lola, corra!, me fez pensar, mas tudo me faz pensar;
  • Tenho que rever Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Foi tão marcante pra mim que não lembro quase nada. Só tive vontade de rever quando algumas pessoas queridas disseram ter memórias que gostariam de apagar;
  • Ponto de Mutação é muito bem organizado, mas, sinceramente não teve muita novidade pra mim;
  • Arraste-me Para o Inferno me deu novas esperanças de que Sam Raimi volte a fazer filmes como Uma Noite Alucinante e deixe dessa coisa de Homem-Aranha;
  • Esperei meses pra ver Scott Pilgrim e a única coisa legal que vi nele foram aquelas brincadeiras com jogos de videogame (score, K.O., os inimigos vencidos se transformando em moedas, etc.) . De resto...;
  • É impressão minha ou o trailer de O Golpista do Ano esquece completamente o lado dramático do filme. Eu, particularmente, o considero muito mais dramático do que cômico.
Uma última advertência: Os critérios usados aqui são meus. Nem eu sei quais são. Os leitores tem liberdade para total para discordar e são até encorajados a fazer isso nos comentários. Agora vamos à lista:
  1. Perfume de mulher;
  2. O cheiro do ralo;
  3. Cashback;
  4. Closer;
  5. Donnie Darko;
  6. Pequena Miss Sunshine;
  7. Tropa de elite 2;
  8. Ilha do medo;
  9. A origem;
  10. Cães de aluguel;
  11. Cidade de Deus;
  12. Beleza americana;
  13. A mão que balança o berço;
  14. Três homens em conflito;
  15. Preciosa.
Eu passei o dia quase todo tentando ordenar essa lista e depois de tudo não estou satisfeito com o resultado final. Sinto que estou fazendo uma tremenda injustiça com Preciosa. É um filme espetacular, com uma atuação memorável de Mo'Nique (talvez uma das melhores que vi até hoje) e que, apesar de ser baseado num romance, simplesmente não funcionaria em outro formato. É uma obra de valor cinematográfico mesmo. Quanto aos outros, gostaria de fazer um comentário rápido sobre cada um, mas tomaria muito espaço. Closer tem diálogos grandes que dão um post só dele. Acho que em breve comentarei alguns filmes em separado e devo escrever algo sobre a experiência frustrante de fazer listas desse tipo.

Não sei se você sabe,

mas nem todas as músicas da trilha sonora de Amélie Poulain foram compostas exclusivamente para o filme. Na verdade quase nenhuma foi.

O fato é que de todas as músicas que tocam durante o filme, apenas uma não está no disco da trilha sonora original. É a música da cena onde Amélie persegue Nino, que deixa cair um dos seus álbuns. Chama-se Quimper 94 e foi gravada pela primeira vez no disco La Valse des monstres, de 1995.

Quimper é uma comuna do Oeste da França. O que Yann Tiersen vivenciou por lá em 1994 eu não sei dizer, mas tenho certeza de que aprecio o muito resultado: